Usando a PNL para formar e manter casais II

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seg, 13/06/2005

<<< Parte I deste artigo

Interferindo nos laços fechados da comunicação quando eles ocorrem na sessão

O segundo e mais importante nível da minha sessão com o casal inclui a exploração da estrutura atual de comunicação entre os dois. A estrutura dessa comunicação é mais importante do que o conteúdo teórico (que pode ser qualquer das questões citadas na parte I, ou alguma outra sobre a qual o casal vinha discordando previamente).

É aí onde os casais se tornam fundamentalmente diferentes para o trabalho individual. Lembra daquela velha pérola da PNL, o metamodelo? Bem, é aqui que ela finalmente se torna a ferramenta essencial da terapia. O metamodelo é uma ferramenta para conseguir que as pessoas enviem mensagens sensoriais específicas, inclusive performativas ("Eu...."), e para iniciarem o feedback sensorial especifico, inclusive o performativo ("Você...") no processo de comunicação. Cerca de 80% das minhas intervenções com casais são desse tipo:

Pessoa A: "Ele está incrivelmente insensível; isto está errado!"

Terapeuta: "Então é isto que realmente lhe incomoda. Você pode conferir como, especificamente, ele/ela é insensível?"

Pessoa A: "Bem, a maneira como ele/ela estava ouvindo quando eu disse tudo aquilo."

Terapeuta: "Ah, então você teve a impressão que ele/ela não estava ouvindo." (e para a pessoa B)"Você estava?"

Pessoa B: "Lógico que eu estava. Eu ouvi cada palavra. Você sempre me insulta desse jeito."

Terapeuta: "Bem, até aqui você estava preocupada se ele/ela estava lhe ouvindo." (para a pessoa A) "E até aqui você estava preocupada porque ele/ela não estava. O que lhe levaria a saber se ele/ela estava realmente lhe ouvindo?"

Pessoa A: "Bom, lógico, se ele/ela estivesse olhando na minha direção."

Terapeuta: (para a pessoa B) "Você sabia que o que ela precisava era ver para sentir que estava sendo ouvida?"

Pessoa B: "Não."

Terapeuta: "Isso deve ter acontecido assim muitas vezes, e quando ele/ela reclamou, você se sentiu insultado, está certo?"

Pessoa B: "Sim. E eu suponho que já que eu me senti desse jeito, eu realmente ouvi menos."

Pessoa A: "Exatamente. Então como eu faço para saber se você está me ouvindo, se você nem mesmo me olha?"

Terapeuta: "Nós estamos atrás disto, não é? Uma maneira que você possa saber se ele/ela está realmente ouvindo-o. E uma solução é que ele/ela o olhe. Preciso acrescentar outra coisa... você se sente ouvida por mim?"

Pessoa A: "Lógico."

Terapeuta: "Como estou atento ao que estou fazendo, preciso verificar, cada vez, se entendi o que você diz antes de responder. Meio que fazendo uma reformulação para descobrir se eu peguei isto direito. E, para nós dois, isto me dá um feedback para ver se eu o entendi."

Nessa sequência, o terapeuta usa o metamodelo, combinado com acompanhamento verbal (feedback, escuta reflexiva). O terapeuta também modela e ensina esse processo de feedback. Seria muito fácil para o terapeuta ter assumido (com a pessoa A) que ambos sabiam o que significava para cada um deles "não ouvir" ou mesmo "ficar insensível".

Na terapia de casais, o segredo é questionar internamente cada definição e cada pressuposição! Só porque uma pessoa se refere a algo e a outra pessoa balança a cabeça, não significa que os dois sabem sobre o que estão falando.

Deixe-me segmentar um pouco para baixo e explicar etapa por etapa o que vai de errado no conflito de casais, como este acima, e como um terapeuta de PNL pode intervir. (Todo esse modelo é claramente explicado no Changing with Families por Satir, Grinder e Bandler, e também no meu livro Communicating Caring.)

Aqui eu vou: a) explicar o que é um laço de comunicação fechada, e b) introduzir três habilidades básicas para resolvê-lo (dois para serem usados pelo casal, e o terceiro pelo terapeuta de PNL).

Laços fechados de comunicação: um exemplo

Rubem e Belina estão morando juntos. Rubem chega em casa do trabalho e fica contente em ver Belina. Ele decide transmitir isso. Se Rubem e Belina fossem ambos telepáticos, Belina poderia "ler a sua mente." Sendo humanos, Rubem precisa escolher alguma ação ou frase para ser a mensagem sobre o sentimento que ele tem. Ele filtra a sua experiência interna (pensamentos e sensações) em palavras. A mensagem que ele diz é "Olá! Como foi o seu dia?"

Quando Belina recebe essa mensagem, ela tem que decidir o que significa. Ela filtra a mensagem para uma representação interna do que Rubem pensou e sentiu. Com esperança, quando Rubem diz: "Olá! Como foi o seu dia?," Belina decide que Rubem está contente em vê-la. Ela pode então se sentir contente em ver Rubem, e enviar de volta a sua própria mensagem: "Bem, e como foi o seu?" É assim, da maneira mais simples, que funciona um laço de comunicação.

Mas e se Belina filtrar algo mais. Pode ser que recentemente Rubem esteve lhe fazendo muitas perguntas pessoais, e pareceu muito crítico sobre o estilo de vida dela. Talvez, Belina esteja pensando que, ultimamente, Rubem está tentando descobrir demais sobre a sua vida privada. Nessa hora ela pode filtrar uma representação interna do Rubem aumentando essa campanha. Quando Belina tem este tipo de representação interna, isso muda o seu estado emocional (ela fica "incomodada"), e a sua mensagem de retorno talvez seja muito diferente: "Não seja tão curioso. Por que não me deixa sozinha!"

Agora, quando Rubem filtrar esta mensagem, pode fazer uma representação interna da Belina ficando braba com ele, ou não querendo viver com ele. Uma vez que esse processo começou, ele pode aumentar. O estado de Rubem mudou como resultado da sua representação interna da Belina não querendo viver com ele. (Rubem também está "incomodado").

Se Rubem disparar: "Você parece sempre tão braba! Não pode ser apenas amável?" Belina pode agora filtrar a "prova" que Rubem estava se intrometendo na sua vida e analisando-a. Isso é um laço fechado de comunicação. Belina fica incomodada sobre o que ela imagina que Rubem pretende; Rubem fica incomodado pelo que ela imagina. Belina também, e assim por diante num laço. O laço é fechado porque nenhum deles, na realidade, verifica se recebeu a mensagem certa.

Em termos de metamodelo, Belina apagou a parte da mensagem onde Rubem disse que queria que ela fosse amável. Ela generalizou um comentário sobre estar braba, como significando que Rubem estava se intrometendo na sua vida de uma maneira contínua. Ela distorceu a sua própria teoria sobre isso numa "prova", como se ela pudesse ler a mente do Rubem. As perguntas do metamodelo são uma maneira de você saber na hora, como um Practitioner de PNL, como esclarecer um laço fechado de comunicação. Ao fazer as perguntas do metamodelo, você ajuda as pessoas a enviarem mensagens muito claras sobre as suas representações internas.

Mensagens "Eu" claras resolvem os laços fechados de comunicação

Tais mensagens claras são muitas vezes chamadas de "mensagens eu", porque elas descrevem a experiência interna do "eu" tenho. A "mensagem eu" é uma das duas habilidades que os casais podem usar para resolver os laços fechados de comunicação. No exemplo acima, onde Belina diz "Não seja tão curioso. Por que não me deixa sozinha!", ela disse algo sobre Rubem – uma mensagem "você."

Ao usar a mensagem "eu", ela poderia ter não somente solucionado seu próprio problema mais rápido, mas também ajudado a fechar a fenda entre os dois. Ela podia ter dito "Quando você me pergunta isso, eu me sinto indecisa sobre o que está me perguntando" ou "Quando eu responder isto, eu me sinto controlada. Eu acho que me sinto desconfortável com algumas das perguntas que você tem me feito nos últimos tempos." Sério: Rubem poderia ter ficado surpreso, mas pelo menos saberia o que isso significava para Belina.

No próximo passo, Rubem, de volta, diz outra mensagem "você" ("Você sempre parece tão braba. Não pode ser amável?"). Usando uma mensagem "eu", ele poderia ter dito "Eu só estava querendo ser amável," ou "Eu não sei o que fiz de errado. Estou chocado. Eu só queria perguntar-lhe como foi o seu dia." Poderia funcionar melhor, se esperasse outra hora para trazer o assunto à tona, mas pelo menos com uma mensagem "eu", Belina, mais provavelmente, saberia que não estava sendo acusada. Uma mensagem "eu" clara descreve como eu me sinto (estado) e para qual experiência sensorial específica eu estou reagindo.

Escuta reflexiva resolve os laços fechados de comunicação

Uma segunda habilidade também pode ser usada pelo casal para resolver o problema do laço fechado de comunicação. É a escuta reflexiva, ou feedback. Escuta reflexiva significa reformular o que a pessoa disse de volta para ela, como se ela tivesse dito uma mensagem "eu." A declaração reflexiva verifica qual era a mensagem clara que estava por trás da declaração da pessoa.

Por exemplo, quando Belina disse "Não seja tão curioso. Por que não me deixa sozinha!", Rubem poderia ter respondido: "Quando eu lhe pergunto como foi seu dia, desse jeito, você se sente perturbada." Do mesmo modo, depois de Rubem ter dito "Você sempre parece tão braba. Não pode ser amável?", Belina poderia ter reagido: "Quando eu digo aquilo, eu pareço braba para você. Você está desapontado porque nós não nos damos melhor."

Quando você usa a escuta reflexiva, você está realmente verificando se a mensagem que recebeu, depois de passar por dois sistemas de filtros, é realmente uma descrição bastante clara da experiência interna da outra pessoa. De certo modo, é uma pergunta que diz: "Deixe-me verificar se eu entendi corretamente a sua mensagem. Você quis dizer...?"

Quando isso é feito com um interesse genuíno, congruente, para entender o que a outra pessoa queria dizer, isso tem efeitos poderosos. A outra pessoa se sente compreendida. Ela provavelmente irá balançar a cabeça ou concordar verbalmente, para que você saiba que a sua reformulação estava correta. Ela mesma irá ficar mais propensa a escutar quando você lhe enviar a sua própria mensagem. Se você tiver sucesso, ela irá começar a reformular a suas mensagens para verificar a própria compreensão dela (ela terá aprendido a habilidade).

Se a sua mensagem reflexiva era exatamente correta ou não, isso tende a encorajar a outra pessoa a falar em mensagens mais claras. As suas mensagens reflexivas mudam sutilmente a maneira que a outra pessoa pensa sobre o que significa a mensagem. Mensagens reflexivas alteram, suavemente, o comentário da pessoa em linha com o metamodelo.

a) mensagens reflexivas incluem a palavra "você" (uma realização, em termos de metamodelo). Ela faz lembrar à pessoa que sente especificamente isto, e que pensa que estas coisas são verdadeiras. Por exemplo, "Assim para você ..."

b) mensagens reflexivas incluem palavras sensoriais/perceptivas tais como "Você sente..." "A maneira que você vê isso..." "Para você parece..." "A sua opinião..." " Você pensa..." Isso desafia os padrões do metamodelo como a leitura da mente. Faz lembrar à pessoa "Essa é a sua percepção disso."

c) mensagens reflexivas podem evitar causa e efeito, equivalência complexa e operadores modais apenas usando a estrutura "Quando... (esse evento sensorial específico acontece)... você sente/pensa ... (reação interna)." Isso faz parar a pessoa filtrando a sua experiência como se algo ou alguém "faz ela ter que" sentir ou pensar de uma certa maneira. Na sua mensagem reflexiva, você pode colocar a pessoa de volta para "a causa" da sua vida. "Quando isso acontece, você sente isto" explorando a possibilidade que você poderia descobrir uma maneira de reagir se sentindo diferente.

d) mensagens reflexivas podem limitar realisticamente os eventos, desafiando qualquer quantificador universal. Na primeira declaração de Rubem - "Você sempre parece tão braba" - sempre é um quantificador universal. Belina não tem que arguir se era verdade ou não. Ela poderia só refletir "Quando eu digo isto, eu pareço braba para você". A sua mensagem reflexiva fala sobre um tempo específico, ao invés de "sempre".

Usado pelo terapeuta, o metamodelo resolve o laço fechado de comunicação

Usado com escuta reflexiva e contexto suavizante, o metamodelo pode ajudar a esclarecer um laço fechado de comunicação. Quando Belina diz "Não seja tão curioso. Por que não me deixa sozinha?", um terapeuta poderia ter respondido: "Então você gostaria que ele lhe desse mais espaço. Aliás, eu não compreendi; como especificamente ele estava sendo curioso?"

Quando Rubem disse "Você sempre parece tão braba. Não pode ser apenas amável?", um terapeuta poderia ter respondido "Ela parecia braba quando disse isto. Você pretende que ela sempre pareça desse jeito para você?" ou "Você gostaria que ela fosse mais amável. O que especificamente ela deveria fazer que ficaria mais amável?" Mais exemplos desse processo são fornecidos no livro Changing with Families.

O metamodelo, de novo, encoraja a outra pessoa a enviar "mensagens eu" claras. Note, entretanto, que eu não recomendo que, no início, você ensine o metamodelo para o casal. O metamodelo é uma habilidade de diferenciação; ele segmenta para baixo e discorda da outra pessoa, e exige um alto nível de rapport para ser usado com sucesso.

Processo e conteúdo

Conforme foi mostrado, existem dois níveis nos quais eu trabalho com casais: a) o "conteúdo" dos seus desacordos particulares, e nas questões particulares levantadas quando nós exploramos os seus metaprogramas, etc...e b) o processo de como eles se comunicam na sessão. Como em todas as comunicações, o conteúdo é tentador; por isso é atraente ficar envolvido na questão, em encontrar uma solução, em quem disse o quê quando, em quem realmente tem quais valores, metaprogramas ou âncoras negativas.

A chave para fazer com sucesso o trabalho com casais é prestar atenção, na maior parte do tempo, ao processo. Resolver um conflito particular é uma grande experiência, mas sem a compreensão da estrutura da comunicação efetiva, o casal está propenso a retornar de novo e de novo para conseguir ajuda com futuros conflitos. Sabendo isso, significa que eu estou disposto a não concluir um conteúdo particular na sessão, se nós podemos usar o tempo para explorar e resolver, completamente, um laço fechado de comunicação.

E tem uma coisa que eu faço no final da sessão com o casal. Ao concluir a sessão, eu digo que apreciei estar com eles, e o que eu identifiquei como bem sucedido na sua interação conjunta. Mensagens "eu" e feedback não são apenas maneiras de identificar o que vai errado. Eu também almejo que o casal as use para celebrar o que está funcionando certo.

Sumário

Existe uma estrutura para construir e para sustentar um relacionamento íntimo bem sucedido. Como com qualquer outra coisa que acontece na nossa neurologia, a PNL oferece meios para modelar este processo e passá-lo para outros.

O processo de ajuda a um indivíduo para descobrir alguém para amar, envolve:

  • Identificar seu valor para um relacionamento.
  • Ressignificar a experiência da sua capacidade de influenciar esse objetivo.
  • Verificar a ecologia de estar num relacionamento, com o risco relativo ao outro ser humano.
  • Identificar sua estratégia para o amor e para a atração (como você sabe que é amado?; como você consegue amar alguém?; como você sabe que alguém está atraído por você?; como você fica atraído por alguém?).
  • Ensaiar, com êxito, a pessoa usando a estratégia para iniciar uma interação.
  • Esclarecer qualquer questão sobre tudo isso usando a Terapia da Linha do Tempo e a Integração das Partes.

O processo de ajuda a um casal para manter e intensificar o seu relacionamento inclui:

  • Posicionar claramente o objetivo com os dois.
  • Ensiná-los sobre a ancoragem e inverter âncoras negativas.
  • Eliciar e ensinar a eles sobre os seus metaprogramas e valores.
  • Remover as questões e esclarecer os objetivos em terapia individual.
  • Identificar as suas estratégias para o amor e para a atração (como você sabe que é amado?; como você consegue amar alguém?; como você sabe que alguém está atraído por você?; como você fica atraído por alguém?).
  • Treiná-los para usar a mensagem "eu" e a escuta reflexiva.
  • Interromper e redirecionar os laços fechados de comunicação quando eles ocorrerem, usando os metamodelos.
  • Testar o casal.

Bibliografia

Bandler, R., Grinder, J. and Satir, V. Changing With Families, Science and Behavior, Palo Alto, CA, 1976

Bolstad, R., Hamblett, M., Ohison, T. and Hardie, J. Communicating Caring, Longman Paul, Auckland, New Zealand, 1992

Cameron-Bandler, L. Soluções, Editora Summus

James, T. e Woodsmall, W. A Terapia da Linha do Tempo e A base da personalidade, Editora Eko

Artigo publicado na revista Anchor Point de julho de 1996

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