Usando a PNL com crianças e adolescentes com problemas de aprendizado

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ter, 15/07/2003

Antes de iniciar meu aprendizado em PNL, eu havia dito a mim mesma que jamais trabalharia com crianças. Minha mãe é fisioterapeuta de crianças e ela tinha seu consultório em nossa casa. Eu estava acostumada a ver e ouvir crianças chorando e com dificuldades de aprendizado ou problemas de comportamento. Bem, resolvi que jamais trabalharia com crianças. Os conhecimentos de PNL me mostraram que meu inconsciente, que não reconhece o "jamais", estava planejando meu futuro. Eu dei alguns passos em direção ao grau de Mestre em Administração Empresarial (MBA), morando nos Estados Unidos, e trabalhando numa agência de propaganda para realizar isso. Eu abri meu próprio escritório em 1995 e venho trabalhando com crianças e adolescentes por 5 anos. E uma coisa que sempre digo a eles é que aquilo que queremos, ou que não queremos, pode nos acontecer.

Eu trabalho principalmente com crianças e adolescentes, entre cinco e vinte e dois anos. Eles me procuram devido a dificuldades em aprender escrita ou matemática, ou porque têm problemas de falta de atenção ou comportamentais; alguns deles têm medo de testes.

Ao trabalhar com crianças, acho muito útil a pirâmide abaixo:

Primeiro, temos que estabelecer uma relação com um tópico, ou um campo, na escola. Esse deve fazer algum sentido para o aluno: ou ele gosta da professora e quer trabalhar para ela. Ou quer fazer os pais felizes. Ou sente-se bem ao fazer um bom trabalho na escola.

Em segundo lugar, eles devem estar num bom estado, de modo a poder acessar os próprios recursos e estratégias interiores. E, mais importante, ter a coragem de falhar quando tentam novas estratégias.

Em terceiro lugar, precisam descobrir sua própria maneira de aprender, experimentar e avaliar as estratégias usadas.

Se a relação com o tópico ou o professor for prejudicada, o estado em que as crianças estão será um estado ruim ou de pouca energia. Num estado de baixa energia, os recursos e as estratégias internas não podem ser acessados. Provavelmente, serão usadas as estratégias que sempre foram usadas, embora não funcionem. Devido ao fato de que a pessoa não se sente bem consigo mesma, ela não está disposta a abandonar as estratégias que não funcionam, mas são conhecidas, e a trocá-las por estratégias desconhecidas, mas que funcionam.

Assim, ao trabalhar com uma criança precisamos, de alguma forma, ajudá-la a se relacionar com o tópico ou com o professor. Depois, orientá-la na administração do seu estado, assisti-la para que encontre seu próprio estilo de aprendizado e as estratégias que melhor funcionam para ela.

Eu gostaria de explicar esta pirâmide conforme a usei numa sessão de terapia que tive com um menino chamado Mark.

Mark veio a mim porque tinha problemas em escrita e ortografia, e também em matemática. Usando a pirâmide como uma lista de verificação, eu perguntei qual era o tópico que ele mais gostava na escola. Ele respondeu que era Biologia.

Perguntei-lhe o quanto gostava da biologia. Ele disse: Muito, e desenhou um sorriso.

Perguntei-lhe, então, como ele se sentia ao fazer as coisas relativas a biologia. Ele respondeu: "Bem", e desenhou novamente um sorriso.

Você é capaz de aprender bem, lembrar-se das coisas, fazer o desenho de algo? Ele disse: "Sim", e desenhou outro sorriso.

Depois, olhamos para o outro lado. Você gosta de matemática, de escrita? "Não muito". Como se sente quando você realiza tarefas dessas matérias? "Terrível". Você consegue lembrar-se, aprender as coisas em alemão e em matemática? "OK".

Procuramos, então, descobrir o que o fazia detestar a matemática e a escrita. "A professora", disse ele. "Ela não gosta de mim. Ela sempre reclama."

Às vezes, os estudantes têm problemas com o professor, e na Alemanha os professores frequentemente costumam motivar apontando o que o aluno fez de errado. Perguntei a ele: "Então, quem vai ganhar, você ou a professora?" Ele se empolgou, olhou-me diretamente nos olhos e deu um largo sorriso, dizendo: "Claro que sou eu!"

Isso mudou o relacionamento com a professora, e eu tenho notado muitas vezes que essa atitude contrária e raivosa é um bom motivador para as crianças. Elas começam a ver a coisa mais como um jogo que podem ganhar. Sentem que estão tendo alguma influência sobre a situação.

Então, começou o jogo. Todos os que realizam algo, os esportistas, qualquer um que realize alguma coisa, precisa pensar sobre seu estado. Pedi que ele lembrasse de uma vez em que se sentiu feliz e conseguiu realizar algo muito bem. Depois, comparei com um estado em que ele sentiu-se mal e a maneira como conseguiu realizar alguma coisa. Voltamos para a lista de verificação.

Neste caso, o estado dele dependia da professora. O menino era orientado para os outros, e tinha grandes habilidades sociais. Ele queria que a professora gostasse dele, e ela não gostava. Ele tinha quase uma fobia em relação à professora; mencionar o nome dela colocou-o num estado ruim.

Então, o que fazer? Muitas vezes, uso a cura de fobia para ajudar as crianças a fazerem a dissociação de experiências ruins. Com este menino, eu mudei as submodalidades da professora, também. Primeiro, encolhemos a professora e lhe demos uma voz de Mickey Mouse. O menino mudou imediatamente o estado, começou a rir, e disse: "Ela ficou tão pequena que está se arrastando debaixo do carpete". Que imaginação, pensei. Realmente, ela está muito pequenina. Fiquei pensando quem eu faria tão pequenino que pudesse arrastar-se sob o carpete.

Agora, estamos trabalhando para usar sua grande habilidade imaginativa para aprender matemática e escrita.

Agora, ele já está muito melhor na escola. Suas notas melhoraram bastante. E até seu relacionamento com a professora melhorou. E ela vem dando um retorno mais positivo ao trabalho dele.

Quando conseguimos ajudar as crianças a se relacionarem com o tópico e a administrarem seu estado, podemos pensar em transferir recursos. Eu gosto muito da estratégia de Robert Dilts para a escrita, e a tenho usado para quase tudo: para aprender uma língua, ou para aprender a multiplicar, e até, num certo caso, para aprender todos os estados dos Estados Unidos. Ela funciona sempre, e as crianças se desempenham muito melhor nos testes de percepção visual.

É uma estratégia tão importante para aprender a escrever como para ajudar as crianças a aprenderem as técnicas básicas de aprendizado, como: continuar a fazer as tarefas mesmo que sejam difíceis, perseverar, cometer erros, não desistir, fazer perguntas, e procurar descobrir as coisas que não sabem.

Eu encorajo isso nas horas em que as crianças estão comigo. Também oriento os pais a fazerem o mesmo. Às vezes, tenho contato com os professores e explico-lhes sobre a pirâmide.

Portanto, o foco, para os pais e para os professores deve ser:

  1. Relacionamento.
    Explico a pirâmide aos pais, para que eles entendam que o mais importante é o relacionamento, e que o seu foco principal deve ser colocado no relacionamento que têm com a criança ao invés de colocá-lo no resultado do trabalho escolar.
  2. Estado.
    Os pais devem saber que seu filho começa com uma espécie de débito na conta de seus estados emocionais ao começar um trabalho escolar. Neste ponto, é importante valorizar o fato de que ele/ela ainda está tentando, começando por si mesmo, e fazendo perguntas.
  3. Estratégias.
    As Estratégias que temos trabalhado na lição são explicadas aos pais, para que eles possam usá-las com as crianças, por exemplo, a estratégia de escrita. Novamente, é importante lembrar os pais para manterem o processo, e não o resultado, em foco. O uso da estratégia correta deve ser recompensado, e não a escrita correta. Não saber a palavra significa que é hora de melhorar a estratégia, e não de repeti-la.

Eu descobri que, por simples que seja a pirâmide, não podemos pular os níveis; precisamos passar de um por um. Tudo começa com o relacionamento e, às vezes, é o relacionamento que a criança tem consigo mesma que faz a diferença. Mudar isso, ajudando-a a administrar seu estado e melhorar sua estratégia faz toda a diferença.

Vi até que ponto as crianças podem chegar quando uma mãe ligou para mim, antes do Natal. O filho dela havia estado comigo 2 anos antes. Naquela época, o diagnóstico dele foi de dislexia, e não havia qualquer garantia de que ele seria capaz de terminar a escola e encontrar um emprego como aprendiz junto a um artesão. (Na Alemanha há um curso de três anos de artesanato, que inclui a escola e a prática. Existe mais procura do que oferta de emprego, de forma que as companhias podem escolher quem elas quiserem; notas baixas em Alemão dificultam muito encontrar um emprego).

Ela ligou para dizer-me que seu filho havia terminado a escola com o grau A em Alemão e está fazendo aquilo que sempre desejou: tornar-se um artesão.

A mãe perguntou a ele: "Como foi que você conseguiu um A em alemão? Você sofre de dislexia!" "Bem, eu posso!" disse ele.

Eu senti muito orgulho dele.

Publicado na Anchor Point, Junho de 2000.
Tradução: Hélia Cadore
Publicado no Golfinho Impresso Nº 69 de OUT/2000

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