Interrupção estratégica de padrão

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seg, 01/09/2014

Durante os últimos anos, comecei a acreditar que um dos princípios mais importantes que o Dr. Milton H. Erickson defendia era “simplifique”. Regularmente ele sugeria que os seus estudantes interrompessem ou rompessem os cenários habituais dos seus clientes. Além disso, muitas das suas intervenções pareciam planejadas simplesmente para mudar a ordem ou a sintaxe dos padrões de pensamento e/ou do comportamento dos clientes.

Numa ocasião, ele instruiu uma senhora de idade, deprimida e solitária, e que raramente saía de casa, para dar as suas violetas de presente para as pessoas na sua cidade sempre que elas celebrassem formaturas, casamentos, nascimentos, etc. Sua depressão desapareceu quando ela saiu de casa e começou a fazer amizades com centenas de pessoas por toda comunidade. Em outro caso, ele surpreendeu uma estudante num dos seus seminários, ao gritar para que ela pulasse fora da sua cadeira, deixando que a sua fobia ficasse flutuando lá. Ela relatou que, naquele dia, foi para casa flutuando e, da próxima vez que foi assistir ao seminário, advertiu que ninguém deveria sentar naquela cadeira porque poderiam ficar infectados pela fobia dela.

“... e depois o que você precisa fazer é tentar algo que induza uma mudança no paciente – qualquer pequena mudança. Porque o paciente quer uma mudança por pequena que seja, e ele vai aceitar isso como mudança... e então segue a essa outra mudança e a mudança vai se desenvolvendo de acordo com as suas próprias necessidades. É mais ou menos como rolar uma bola de neve montanha abaixo. Ela começa como uma pequena bola de neve, mas ao rolar montanha abaixo, fica cada vez maior... e começa uma avalanche que se amolda ao formato da montanha.” (Milton H. Erickson, 1978 (Gordon e Myers-Anderson))

“Milton Erickson estava trabalhando com um alcoólatra. O sujeito tinha sido um ás da aviação na Primeira Guerra Mundial e vinha sempre com um álbum de fotografias dele, de recortes de jornais, e ele” – um beberrão. Ele queria ser curado, deixar de ser um alcoólatra. Ele mostrou o seu álbum para o Milton que o pegou e o jogou na lata de lixo. “Isso não tem nada a ver com você.” Então, depois de conversarem um pouco, Milton pergunta como ele começa uma bebedeira. “Bem, eu compro dois coquetéis de whisky e tequila, bebo um e lavo o copo com uma cerveja, depois bebo o outro e o lavo com a segunda cerveja, e estou pronto para a disputa.” “Certo”, diz o Dr. Erickson, “agora vá embora, deixe o meu escritório, prossiga até o bar mais próximo, e peça os dois coquetéis. Vá em frente e tome o primeiro, e ao fazer isto, faça um brinde dizendo ‘Este foi para aquele bastardo do Dr. Erickson.’ Quando levantar o outro drinque, diga: ‘Este é para aquele bastardo do Erickson, que ele possa apodrecer no inferno.’ Boa noite.” O paciente voltou um ano depois, sóbrio.” (Bateson, 1975)

Nas conversas com os seus estudantes, ele declarava que a maneira que uma pessoa move seus olhos, move seu corpo, os gestos que faz, carrega muita informação. Talvez o Dr. Erickson não estivesse só nos convidando para observar os padrões oculares ou os outros comportamentos, mas sim, podia estar convidando os terapeutas para sugerirem aos seus clientes alterarem a maneira ou a sequência desses padrões.

“... doenças, sejam psicogênicas ou orgânicas, resultam de padrões definidos de algum tipo... que uma ruptura... pode ser a maior medida terapêutica; e que isso, muitas vezes, significa pouco, pois a ruptura foi leve...” (Milton H. Erickson, 1953)

“Os sintomas tendem a ocorrer de modo padronizado. Eles ocorrem tipicamente em certas horas do dia e não em outras, com uma certa frequência, em certos intervalos, em certos locais e não em outros, com alguma(s) pessoa(s) presente(s)  e não com outras. Duram algum tempo, têm componentes afetivos, cognitivos, fisiológicos e perceptivos, e são caracterizados por comportamentos visíveis...” (Bandler e Grinder, 1979).

“Para intervir, é recomendado que o terapeuta reúna informações bem específicas de como sempre o sintoma ocorre, como ele ocorre habitualmente e como ele nunca ocorre. Isso pode ser feito pela observação direta (quando possível) ou pela coleta de dados dos relatos verbais (ou outros) do cliente. É importante obter uma descrição baseada no sensorial, como por exemplo: “três vezes por semana” em vez de “muito seguido”. (Bandler e Grinder, 1975).

Como Erickson disse: “Os seres humanos, sendo humanos, tendem a reagir em padrões, e nós somos governados por padrões de comportamento... você não percebe como todos nós somos rigidamente padronizados...” (Gordon e Myers-Anderson, 1981). Quando tiver apenas um sintoma presente é que é recomendado que os padrões rígidos sejam alterados e, mesmo assim, somente aqueles envolvendo o sintoma, porque não é todo padrão inconsciente rígido que precisa ser mudado. Como diz o dito popular “Se está funcionando, não mexa.” (Bill O’Hanlon, 1984)

Os sintomas não são mantidos apenas pelos padrões, o padrão é operacionalmente equivalente ao sintoma. Isto é, se alguém pode alterar o padrão que envolve e inclui o sintoma, novamente as palavras de Bateson: “A diferença que faz a diferença”, o sintoma não pode mais ser mantido. (Bill O’Hanlon, 1984)

Não há necessidade, de acordo com essa visão, determinar “por que” o padrão ou o sintoma passou a existir ou que função (seja intrafísica ou interpessoal) ele cumpre. A experiência, tanto sintomática como não sintomática, a percepção, o comportamento e a interação são padronizados. Porque isso seria a verdade é uma questão de reflexão e é considerada irrelevante para o objetivo pragmático da mudança terapêutica. O padrão que ocorre em torno do sintoma pode ser dividido em dois tipos: pessoal e interpessoal. A informação sobre os dois pode ser coletada (como acima) pela observação direta e pela eliciação dos relatos sensoriais dos clientes e/ou outras pessoas significativas. (Bandler e Grinder, 1976)

Os clientes tendem a usar certas frases, analogias, metáforas e padrões verbais para descrever seus sintomas (Bandler e Grinder, 1975); (Grinder e Bandler, 1976; Weintraub, 1980). Além disso, elementos não verbais tendem a serem padronizados de maneira previsível, rígida em torno dos padrões. Esses padrões incluem o ritmo e a profundidade da respiração, movimentos oculares, tom de voz, postura corporal, tônus muscular, simetria corporal, etc. “... qualquer um desses padrões pode ser mudado ou quebrado pelo acréscimo ou pela repetição de algo que o força a uma nova percepção, e essas mudanças nunca podem ser previsíveis com absoluta certeza porque elas ainda não aconteceram...” (Gregory Bateson, 1979, Mind and Nature).

O que vem a seguir são classes de intervenções advindas do estudo sistemático do trabalho de Erickson. Elas delineiam diferentes opções para a intervenção nos padrões de percepção pessoal e interpessoal, no comportamento e na experiência.

Mude a frequência/relação do sintoma/padrão.

Mude a intensidade do sintoma/padrão.

Mude a duração do sintoma/padrão.

Mude a hora (hora do dia/semana/mês/ano) do sintoma/padrão.

Mude a localização (no mundo ou no corpo) do sintoma/padrão.

Mude alguma qualidade do sintoma/padrão.

Execute o sintoma sem o padrão.

Execute o padrão sem o sintoma.

Mude a sequência dos elementos no padrão.

Interrompa ou de outra maneira, previna que o padrão ocorra.

Adicione (pelo menos) um novo elemento ao padrão.

Divida qualquer elemento completo anterior em partes menores.

Ligue o sintoma/padrão a outro padrão/meta.

As intervenções são feitas no sintoma ou no padrão usando essas diretrizes genéricas de intervenção até que seja descoberta uma intervenção que anule o padrão sintomático. Não é necessário descobrir a causa ou função do sintoma, é suficiente descobrir "a diferença que faz a diferença”. (Bill O’Hanlon, 1984)

Eu proponho aos meus estudantes na American Hypnosis Training Academy que o objetivo do terapeuta deva ser efetuar uma mudança bem formulada em cada sessão. Eric Berne, MD sugeriu que uma terapia não deve durar mais do que 30 minutos. Ele disse que se o terapeuta não acreditar que isso é uma possibilidade, a psicoterapia poderia  ser desnecessariamente prolongada.

Anos atrás eu encontrei uma citação que expressa um outro aspecto da abordagem da Psicoterapia do Dr. Erickson. Infelizmente não consegui descobrir a fonte.

A percepção que o terapeuta tem na mente sobre o cliente é a profecia que o cliente irá realizar.

A percepção que o próprio cliente tem na mente é a profecia que o cliente está realizando quando vem para a terapia.

Quando o cliente e o terapeuta têm na mente a mesma percepção a realização da profecia compartilhada é inevitável.

O artigo “Strategic Pattern Interruption” está no site do National Board for Certified Clinical Hypnotherapists.

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