Ganhando perspectivas adicionais nos relacionamentos

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ter, 23/10/2018

Introdução

A capacidade de nós vivenciarmos um evento da mesma maneira que outra pessoa vivenciaria é uma parte essencial para qualquer bom relacionamento. Sem algum conhecimento de como outras pessoas vivenciam os eventos de uma forma diferente da nossa, as respostas delas seriam sempre um enigma para nós, como o é para uma pessoa autista. A ideia básica da importância de aprender “como é estar no lugar do outro” é muito antiga e tem sido amplamente reconhecida no campo da psicologia, bem como por muitas tradições espirituais.

No entanto, poucas são as pessoas realmente boas nessa habilidade porque ela é raramente ensinada em detalhes. Felizmente, é possível ajudar os clientes a aprenderem essa capacidade principal do relacionamento através de um simples exercício que depois pode se tornar uma lição de casa. Embora simples de entender e fácil de fazer, ela geralmente tem efeitos profundos e abrangentes. Os clientes geralmente ficam surpreendidos ao se tornarem capazes de entender melhor, de forma natural, o ponto de vista dos outros, de melhorar os seus relacionamentos e de se sentirem com mais habilidades para lidar com a família, amigos e colegas de trabalho.

A lição de casa consiste em ensinar ao cliente as três posições perceptivas fundamentais. Cada uma delas proporciona um tipo único de conhecimento e juntas elas fornecem uma gama surpreendentemente completa de informações para nos ajudar a descobrir as nossas próprias soluções para os conflitos e os desafios que inevitavelmente ocorrem quando nos relacionamos com outras pessoas.

As três posições perceptivas

A sua própria posição. Quando eu penso sobre uma interação com outra pessoa, eu experimento essa posição desde o meu ponto de vista, olhando dos meus olhos e vendo a outra pessoa. Essa é a posição que a maior parte das pessoas assume e na qual se encontra o tempo todo.

Quando eu utilizo essa posição, eu estou em contato com as minhas próprias necessidades e posso perseguir os meus próprios interesses e metas.

Se eu só utilizo a minha própria posição, eu sou como uma criança pequena, egocêntrica e egoísta, e as necessidades e os desejos dos outros não significam nada para mim.

A posição de observador. Eu posso observar de fora a mesma interação entre eu e a outra pessoa, como se eu fosse um observador assistindo dois estranhos em um aparelho de TV. A partir dessa posição, eu posso observar friamente a interação entre nós -- a sequência das palavras, os gestos e as expressões que ocorrem na comunicação. Quando eu utilizo essa posição, eu consigo ver o meu próprio comportamento com mais clareza, como se eu estivesse assistindo uma outra pessoa e também ver como cada um de nós está reagindo ao outro -- livre de avaliação e julgamento.

Se eu utilizo só a posição de observador, eu me torno desapegado e distante, e a vida se torna sem sentido, como um personagem de um romance existencialista.

A posição do outro. Eu experimento a interação entre nós a partir da perspectiva da outra pessoa. Eu me torno ela e experimento como é ser essa pessoa nessa situação, olhando para mim. Quando faço isso bem, eu assumo as crenças, as atitudes, os valores, o conhecimento e a história pessoal da outra pessoa, até o limite do meu conhecimento e capacidade.

Quando utilizo essa posição, eu sou capaz de obter uma compreensão profunda, rica e detalhada do que a outra pessoa está experimentando.

Se eu só utilizo a posição do outro, eu vivo para a outra pessoa em vez de para mim mesmo, uma vida de auto-sacrifício na qual as necessidades e desejos dos outros sempre terão prioridade sobre mim.

Discussão

Cada uma dessas posições tem vantagens e limitações específicas. A capacidade para utilizar plenamente as três posições nos dá todas as vantagens e nos faz esquecer as limitações. Como muitas habilidades, a princípio pode ser um processo essencialmente consciente, mas com a prática se torna inconsciente e natural. Abaixo temos um exemplo de como esse exercício ajuda as pessoas se tornarem espontaneamente mais criativas.

Um homem, enquanto analisava uma difícil discussão que teve com a sua esposa, descobriu como ela se sentia chocada e agredida por algumas das coisas que ele tinha dito, quando, a partir da sua própria perspectiva, ele a tinha visto expressando plenamente a sua frustração e confusão. Isso o levou a adotar uma abordagem muito mais gentil e solidária ao conversar com ela. E quando ele disse a ela o que tinha experimentado como ela, ela foi às lágrimas porque ele finalmente havia entendido como ela se sentia.

Exercício de posições perceptivas

Essas instruções foram projetadas para fornecer o exemplo de um caminho comum. Pessoas diferentes podem precisar de mais instruções sobre diferentes aspectos, terão perguntas diferentes ou preocupações que exigem mais explicações, etc. Depois de pelo menos uma experiência guiada do processo, de preferência duas ou três, pedimos que o cliente procure um lugar calmo e faça, diariamente, o mesmo processo com um ou dois incidentes de cada dia.

1. Escolha o evento

Fred, quero que você pense em uma pequena dificuldade que teve com sua esposa Ann. Quando estiver aprendendo esse método pela primeira vez, é muito importante usar uma dificuldade pequena. Mais tarde, quando você ficar mais experiente e fluente com as etapas do processo, ficará muito mais fácil processar os principais problemas.

2. A própria posição

Reviva essa experiência desde o seu próprio ponto de vista. Você está vendo por seus próprios olhos, ouvindo com os seus próprios ouvidos e tendo os sentimentos que teve como reação a esses eventos.

3. Posição de observador

Agora eu quero que você se permita mover para o lado para uma posição confortável a partir da qual você pode se ver e a Ann igualmente bem (ou permita que a cena se mova até que você esteja em uma posição confortável para observar vocês dois).

A partir dessa posição, e da nova perspectiva, veja e ouça novamente todos esses eventos, dessa vez simplesmente com uma atitude de curiosidade do que você pode aprender sobre essa interação entre Fred e Ann.

Se você tiver outras sensações além de curiosidade ou de compaixão, essas sensações provavelmente pertencem ao Fred ou a Ann, e você pode deixar essas sensações se moverem para lá que é o local de onde elas pertencem.

Agora demore um pouco para permitir que todo o seu ser memorize como é essa posição de observador, de modo que será fácil retornar a ela no futuro sempre que achar conveniente.

4. A posição do outro

Agora olhe para Ann e observe como o modo dela estar no mundo é expresso não verbalmente no tom de voz dela, no ritmo dela, na postura, nos movimentos e gestos, etc. Deixando para trás, temporariamente, as suas próprias crenças, valores e suposições, mova-se suavemente na direção dela e assuma a posição dela para que você possa vivenciar essa situação como ela vivencia.

Como Ann, vivencie os mesmos eventos e as mesmas posições, enquanto você descobre como é ser ela nessa interação. Tire algum tempo para fazer isso novamente com um senso de curiosidade sobre o que você pode aprender com o exercício. Você pode querer repetir todo o processo uma ou duas vezes para ter certeza de que você experimenta absolutamente tudo a partir desta perspectiva.

5. Posição de observador

Agora volte para a posição de observador. Mantendo todo o aprendizado da posição Outro, você pode abandonar completamente essa posição e, novamente, refazer todo o processo, notando qualquer mudança em como você experimenta esses eventos a partir dessa posição de observador depois de experimentar a perspectiva de Ann.

6. A própria posição

Agora retorne à sua própria posição, e vivencie novamente esses eventos a partir dessa posição notando qualquer mudança ocorrida em você depois de experimentar a perspectiva de Ann e a posição de Observador.

Resumo

Uma pessoa pode continuar se movendo de uma posição para outra, desde que esta posição continue a fornecer informações úteis. Normalmente nós terminamos na Própria posição, visto que é dessa maneira que podemos viver com mais recursos a maior parte da nossa vida. (Entretanto, se uma experiência for muito intensa, o cliente pode se sentir mais confortável e criativo terminar na posição de Observador.)

Usar esse processo em uma dada situação sempre a esclarece melhor, às vezes profundamente. Os aprendizados que são feitos em cada posição podem ser transferidos e enriquecem os demais. Geralmente este exercício resulta no cliente:

1. ter uma compreensão mais clara sobre desejos, necessidades e objetivos;
2. sentir-se mais criativo pessoalmente;
3. tornar-se mais preciso intuitivamente sobre a experiência dos outros;
4. ser mais solidário com os outros;
5. ter mais acesso a soluções criativas;
6. experimentar uma maior sabedoria nos relacionamentos.

Como qualquer outra habilidade, aprender como entrar em cada posição e vivenciá-la, e aprender como, espontâneamente, se deslocar rápido e facilmente de uma posição para outra, melhora com a prática. Usar esse processo como lição de casa aprimora a habilidade, ao mesmo tempo em que esclarece e enriquece situações que foram difíceis e problemáticas. Essas novas aprendizagens são compreensões sentidas, não mentais, e elas se transferem para as interações cotidianas com outras pessoas, mudando a forma como a outra pessoa é percebida, compreendida e como ela reage.

Alinhando as Posições Perceptivas

Uma vez que o cliente tenha aprendido o exercício básico apresentado acima, os benefícios podem aumentar incrivelmente através de exercícios adicionais, nos quais cada posição passa a ficar cuidadosamente alinhada. Todos com quem trabalhamos tinham desalinhamentos, nos quais alguns aspectos das posições ficaram fora de lugar. Por exemplo, uma sensação que pertence à outra pessoa pode estar localizada na posição Própria, uma voz Própria pode estar localizada na posição de Observador, ou os olhos na posição Self podem estar olhando desde um ponto dez centímetros para a esquerda de onde estão agora os olhos, etc. Esses desalinhamentos nos impedem de ganhar tudo o que podemos a partir das posições. Aprender a alinhar as posições aumenta a pureza do nosso acesso para cada posição e os benefícios resultantes.

De preferência, a posição do observador estará no mesmo nível dos olhos das duas pessoas na interação. Se o nível do olho do observador estiver mais alto, é provável que as observações se tornem críticas. Mover para baixo a posição do nível dos olhos vai mudar de crítica para uma observação neutra. Esse simples movimento, quando praticado ao longo do tempo, ajuda as pessoas a se tornarem menos críticas.

Se o observador não estiver equidistante das duas pessoas observadas, geralmente há uma tendência de assumir o lado da pessoa que está mais próxima. Mover a posição do observador para ficar na mesma distância das duas pessoas eliminará esse viés.

Um cliente havia sido testado e diagnosticado como biologicamente deprimido e precisando de antidepressivos. Através do alinhamento do seu relacionamento com a mãe, ele descobriu que a voz “dele” era na verdade a voz da sua mãe presa na sua garganta. Depois de permitir que a voz da mãe dele retornasse para ela, abrindo espaço para a sua própria voz, a depressão dele desapareceu espontaneamente nas duas semanas seguintes.

O artigo original "Gaining Additional Perspectives in Relationships" encontra-se no site: steveandreas.com

N. T. Sugerimos também a leitura do artigo: Alinhamento das Posições Perceptivas autoria de Connirae Andreas e Tamara Andreas

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