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Inteligência Emocional
Durante muito tempo nossa cultura, fortemente centrada no conceito de racionalidade, reservou um lugar secundário para a Emoção. Era como se esta fosse uma espécie de prima pobre da Inteligência. Usando uma metáfora poderíamos dizer que, enquanto a Inteligência podia frequentar a sala de visitas, a Emoção tinha de comer na cozinha.
Em muitos ambientes, especialmente naqueles voltados para atividades profissionais, a tendência a emocionar-se é considerada uma fraqueza. Isso é um erro, uma vez que a emoção está profundamente relacionada à motivação - fator indispensável ao comprometimento com a organização e à produtividade no trabalho.
Felizmente, este final de século veio trazer várias mudanças positivas, principalmente uma tendência de se colocar a tecnologia em seu devido lugar, ou seja, a serviço do homem. Nesse contexto, alguns valores ganharam maior importância, especialmente aqueles que permitem diferenciar os seres humanos de suas criações tecnológicas. E valorizar as emoções é enaltecer uma característica do que é vivo, sente e pensa - ou seja, de todos nós.
Descobriu-se que a capacidade de lidar com as emoções é mais importante para o sucesso na vida do que o Quociente de Inteligência (QI). Tal descoberta foi popularizada através do livro de Daniel Goleman, "Inteligência Emocional", o qual simbolizou o retorno da Emoção à sala de visitas da sociedade, nos termos da metáfora anteriormente utilizada. Podemos novamente falar em emoções no contexto empresarial, assim como valorizá-las na qualidade de instrumentos de crescimento e realização pessoal.
Diante de tais informações, cabe perguntar: se é tão importante saber lidar com as emoções, como fazer para desenvolver essa capacidade?
As referências sobre o assunto dão grande ênfase à importância de se adquirir inteligência emocional durante a infância. Uma delas, muito interessante, procura ensinar-nos estratégias de preparação emocional, como parte da educação de nossos filhos. Ocorre que pode ser extremamente difícil transmitir inteligência emocional quando não a possuímos! Como resolver esse problema? Se não for possível desenvolver a inteligência emocional de um adulto, dificilmente haverá alguém que possa preparar emocionalmente as crianças.
Da Inteligência Emocional à Aprendizagem Emocional
A partir da ideia de Inteligência Emocional, é possível trilhar um caminho para a Aprendizagem Emocional. Essa expressão foi considerada mais adequada do que "Inteligência Emocional", pois o conceito de inteligência refere-se primordialmente a recursos disponíveis na consciência, enquanto o aprendizado a que nos referimos ocorre, principalmente, a nível não consciente, conforme explicamos a seguir.
No livro de John Gottman e Joan De Claire, "Inteligência Emocional e a Arte de Educar Nossos Filhos", os autores exemplificam uma reação errada dos pais, quando uma criança se perde em uma loja de departamentos. Ao reencontrar a criança, a mãe reage dizendo: "Seu cretino! Estou danada com você, nunca mais te trago ao shopping". Para muitos leitores, ficará perfeitamente claro que a reação da mãe foi totalmente inadequada. No entanto, muitas pessoas poderiam reagir assim, simplesmente por ficarem impossibilitadas de reagir de outra forma. Não basta estar consciente da reação ideal, da atitude correta a ser tomada. É necessário, acima de tudo, que a pessoa seja capaz de se comportar da maneira adequada. E, conforme explica Daniel Goleman, em "Inteligência Emocional", a parte mais primitiva do cérebro dispara comportamentos instintivos antes que a "consciência" possa avaliar a situação e escolher a forma mais conveniente para se agir em cada contexto. Assim sendo, faz-se necessário que o aprendizado emocional ocorra também a nível não consciente, para que possam ser alterados os estados emocionais de um indivíduo.
Para facilitar o contato com a mente não consciente, a Aprendizagem Emocional utiliza técnicas inspiradas na Imaginação Ativa de Jung, na Meditação dos Guias Interiores de Steinbrecher, na Hipnose Ericksoniana e em modelos e técnicas da Programação Neurolinguística. Através desses procedimentos, o praticante virá a desenvolver uma comunicação cada vez mais intensa com os seus recursos inconscientes, o que resultará em um domínio cada vez maior de seus estados emocionais.
Aprendizagem Emocional e Crescimento Pessoal
Ao longo da História, o homem ocidental sempre buscou formas ativas para alcançar contato com o seu inconsciente.
O oriental, por outro lado, manifestou preferência pela observação passiva e pela meditação desprovida de conteúdo - o esvaziamento da mente.
Nesse cenário, a Aprendizagem Emocional escolhe o estilo ativo ocidental, incorporando poderosas técnicas de mudança psicológica provenientes das terapias breves, associadas à utilização de linguagem hipnótica, oferecendo ao praticante um caminho seguro e gratificante para a utilização crescente dos ilimitados recursos da mente inconsciente.
As Origens da Aprendizagem Emocional
Para facilitar o contato com a mente não consciente, a Aprendizagem Emocional utiliza técnicas inspiradas na Imaginação Ativa de Jung, na Meditação dos Guias Interiores de Steinbrecher, na Hipnose Ericksoniana e em modelos e técnicas da Programação Neurolinguística.
A PNL oferece muitos recursos que permitem lidar com estados emocionais. Podem ser lembrados, por exemplo, Leslie Cameron-Bandler em "O Refém Emocional", trabalho no qual são oferecidos métodos para identificar, classificar e mesmo modificar estados emocionais. Uma parte relevante do trabalho é, sem dúvida, o tratamento dado às emoções como mensagens provenientes do inconsciente. Por outro lado, a Transformação Essencial ("Core Transformation") - técnica desenvolvida por Connirae Andreas - ajuda o praticante a alcançar seus estados mais profundos, através do que poderíamos chamar uma "ressignificação em camadas", apoiada na conhecida pressuposição da intenção positiva. Anthony Robbins também aborda as emoções, de forma simples e correta, em "Desperte o Gigante Interior". Todas essas ideias são aproveitadas na Aprendizagem Emocional.
Através dos procedimentos da Aprendizagem Emocional, o praticante desenvolve uma comunicação cada vez mais intensa com os seus recursos inconscientes, o que resulta em um domínio cada vez maior de seus estados emocionais.
Um Processo Contínuo e Eficaz
Na Aprendizagem Emocional, não descartamos a ideia de que um procedimento executado uma única vez possa produzir resultados permanentes. Todavia, entendemos que um processo contínuo é o meio mais adequado para lidar com a complexidade dinâmica do ser humano. Além disso, a utilização de técnicas de mudança rápida deve garantir que os resultados almejados sejam alcançados dentro de um período de tempo razoável, medido em semanas ou meses e não em muitos anos.
A Aprendizagem Emocional utiliza formatos já testados em outras disciplinas, além de padrões de linguagem usados pela hipnose. Isso coloca o praticante em um estado favorável à descoberta e ao aprendizado de novas formas de lidar com suas emoções. É um processo contínuo, como a terapia tradicional, e que utiliza poderosos instrumentos de mudança, como fazem as terapias breves. Nesse sentido, oferece ao praticante "o melhor de dois mundos".
Em última instância, a Aprendizagem Emocional trata da capacidade de identificar, selecionar, transformar e utilizar as emoções. Através de suas técnicas, o praticante torna-se gradativamente capaz de escolher o estado emocional adequado a cada momento ou contexto, usando suas emoções a seu favor - isto é, como poderosos recursos organizadores do seu comportamento.
Publicado no Golfinho nº 34 - setembro de 1997