Entrevista com John Grinder e Frank Pucelik sobre as origens da PNL

Recentemente foi publicado o livro The Origins of Neuro Linguistic Programming,
editado por John Grinder e Frank Pucelik, que traz as lembranças e
os pensamentos dos principais protagonistas dos anos iniciais da PNL.

M. Greenfield: - Existem muitas lendas sobre a origem da PNL. Você poderia nos contar como ela realmente começou?

John Grinder: - Como realmente começou? A minha história vai levar muitas horas! Eu acho interessante identificar e investigar as origens da PNL. A PNL foi criada por três pessoas. Richard Bandler e Frank Pucelik conduziram juntos os grupos de Gestalt. Eu era amigo de Bandler e Frank, mas o nosso relacionamento não tinha nada a ver com terapia. Eu era professor da Universidade de Santa Cruz, Califórnia. Nessa época, Richard e Frank já vinham trabalhando com grupos de Gestalt por um ano. O trabalho deles era altamente bem-sucedido. Aí eles definiram a meta de ensinar essa habilidade para outras pessoas. Então Richard e Frank me fizeram um pedido (nessa época, os dois estudavam na Universidade): "John, nas suas aulas, você claramente mostra como a linguagem opera na consciência humana. Você poderia mostrar como se mover da capacidade de operar milagres para ensinar as outras pessoas a criarem um milagre? Eu perguntei: - "Em que área? De que áreas da vida nós estamos falando?" Eles responderam: - "Terapia." Eu imediatamente disse "Não! Essa é uma área conservadora! Em vez de adaptar as pessoas, tentem mudar o sistema!" Eles insistiram e eu decidi: - "Bem, eu realmente acho que a terapia é uma área conservadora, mas eu irei e vou ouvir, apesar de duvidar muito de todo esse negócio". Eu fui para observar - os dois trabalhavam perfeitamente. Eu sugeri o seguinte: toda segunda-feira eles trabalhavam na Universidade com um grupo de 15 a 20 pessoas, e toda quinta eu treinava a minha equipe. Qualquer que tenham sido os "milagres" que eles haviam feito na segunda, eu os repetia no meu grupo nas quintas-feiras. Eu os repetia, independentemente dos meus clientes precisarem deles porque o meu objetivo principal era repetir o comportamento deles.

Eu escolhi essa abordagem porque ela permitia projetar um sistema rígido e visualizar o processo. Eu precisava de um esquema localizado no meu cérebro para pacificar as minhas sensações. Então, nós concordamos com Richard e Frank que a princípio, eu dominaria a prática no mesmo nível com eles e aí, eu seria capaz de projetar competentemente um novo modelo vívido para ajudá-los. Eu acho que essa foi uma das pré-condições para a formação da PNL.

Assim, fazíamos terapia Gestalt. Depois eu fui para a África, enquanto eles aprendiam com Virginia Satir, dominaram o sistema dela. Quando nos encontramos novamente, foi fácil para eles me ensinarem esse método porque já tínhamos experiência em trabalhar juntos. As abordagens de Satir e Perls são incompatíveis, mas estava claro que ambas usavam padrões semelhantes do comportamento formal. Essa descoberta levou ao desenvolvimento da PNL como uma terapia em um sistema de modelagem. Assim, Richard e Frank foram capazes de transformar a prática deles em um modelo, o que atingiria os objetivos deles, ou seja, ensinar a ciência deles aos outros. Então foi assim que a PNL começou a alcançar resultados. Há muitas outras histórias, mas esse foi um momento chave no desenvolvimento da PNL.

Frank Pucelik: - ... isso aconteceu na Universidade. Um homem estranho com evidente preconceito visitava as nossas aulas...

John Grinder: - (rindo) Eu entrava, sentava longe dos alunos, observava com atenção, ouvia e ia embora.

Frank Pucelik: - Ele também podia, de repente, fazer perguntas como - "Aqui você fez isso e aquilo, você fez isso com que propósito?" etc. Richard e eu ficávamos intrigados: "Isso agora!" Hoje eu acho que essas questões impulsionaram o nascimento da PNL. Isso foi ótimo. Existiram definitivamente altos e baixos, mas... eu acho que a PNL só existe graças a ele, John Grinder. Agora, existem muitas pessoas que reivindicam a autoria, ou alegam a ideia desse método, mas sem ele, não haveria "milagre".

M. Greenfield: - Então estou certo de que foi você que trouxe a modelagem e a estrutura para a PNL?

John Grinder: - Sim, a descrição formal dos processos. Naqueles anos, eu ensinava linguística, matemática e economia na Universidade, então eu podia facilmente criar um modelo.

M. Shcherbakov: - Então ninguém mais poderia ter feito?

John Grinder: - Não, não é verdade.

M. Greenfield: - Mas a sua formação e a sua profissão lhe ajudaram?

John Grinder: - Minha capacidade de analisar julgamentos e o treinamento em linguística desempenhou um papel importante e, é claro, o entusiasmo, característica comum aos três.

Frank Pucelik: - Eu acho que todos os três contribuíram para a PNL.

John Grinder: - Exatamente! Nenhum de nós poderia ter criado sozinho a PNL. Foi uma colaboração real de três pessoas. Por isso, eu reajo negativamente a tudo tipo "foi você quem começou...", etc.

M. Greenfield: - Como e em que contexto apareceu o termo PNL?

John Grinder: - Naquela vez, nós não dormimos durante 36 horas... Eu me lembro de que nós trabalhamos durante toda a noite com Richard e que o Frank apareceu pelas 4 ou 5 horas da manhã. O termo "neurolinguística" já existia na linguagem científica, nós não inventamos nada de novo. Me parece que eu sugeri esse termo e Richard e Frank apoiaram a ideia. Então um deles disse a palavra "programação". Agora é claro que o termo é inadequado - ele espanta. Analisando o termo "PNL" sob a visão de marketing, mal podíamos ter imaginado um nome pior. A única coisa que posso dizer em defesa do título é, primeiro, nós não éramos muito experientes e nem sequer esperávamos que a PNL tivesse alguma coisa a ver com marketing e, segundo, é que esse título realmente conecta dois níveis neurolinguísticos: a neurologia e a linguística. Há uma piada sobre isso: alguns caras na Filadélfia demonstraram a "programação neurolinguística" chamando-se a si mesmos, ocasionalmente, de "lingvini" - (nome de uma espécie de salsichas). Eu acho que eles escolheram este título espirituoso de propósito.

Frank Pucelik: - Alguns, desde o princípio, chamaram esse método de "META".

John Grinder: - O fato é que a ideia de "META" também reflete um elemento muito importante da Programação Neurolinguística - sua lógica. "META" significa um nível externo lógico, "a comunicação da comunicação."

M. Greenfield: - Quais são as relações entre a PNL e a ciência oficial? A psicologia em particular?

John Grinder: - Para ser mais exato, o que você quis dizer, ciência ou psicologia? Eu não acho que a psicologia seja uma ciência. Eu tenho que esclarecer a que ciência você se refere?

M. Shcherbakov: - No ocidente, e particularmente nos Estados Unidos, existe uma clara distinção entre a psicoterapia, a medicina, a consultoria, o New Age, etc. Que lugar a PNL ocupa nesse sistema?

John Grinder: - A PNL, como eu a concebi, e eu acho que Frank também diria o mesmo (Deus sabe o que Richard pensa sobre isso!), então – a essência da PNL é modelar as habilidades. Essa é a explicação e a codificação das habilidades comportamentais que fazem uma distinção entre o efeito comum e o efeito genial. Nesse sentido, essa ciência é "composta de figuras". E ela bem poderia ser aplicada a qualquer outra disciplina. A maioria das pessoas fala sobre programação neurolinguística com a visão da sua aplicação no campo da psicoterapia. Eu trabalhei duro para separar os dois níveis lógicos. No entanto, em revistas populares, jornais e outros, a fronteira não está claramente definida. Se entendermos a PNL em sua aplicação na terapia, ela automaticamente se encaixa com a psicologia, a consultoria nas empresas, etc. Nesse sentido, a PNL se torna uma abordagem estratégica garantida para o problema, tendo como alvo criar mudanças no contexto da psicoterapia.

M. Shcherbakov: - Em que tipo de revista, esses que se chamam de Penelistas colocam seus anúncios - revistas sobre psicoterapia, sobre medicina, New Age?

John Grinder: - Eu tenho visto tais anúncios em todos os tipos de revistas. Eu acho que eles são totalmente confusos, mas essa é a minha opinião.

M. Shcherbakov: - Na Rússia, muitas pessoas acreditam que a PNL é uma série de habilidades técnicas. Isso é verdade também na Europa e na América.

John Grinder: - É exatamente o mesmo. Eu acabei de mencionar que sempre tentei distinguir entre a PNL como uma ciência perfeita de modelagem de habilidades e a PNL prática como uma forma de psicoterapia, etc. Apesar de todos os meus esforços, nem a imprensa, nem a opinião pública enxerga a distinção. Misturar os níveis lógicos e a falta de habilidade em separá-las, acontece muitas vezes. Esse é um erro não apenas na PNL, mas em todo o mundo científico. Num sentido, a competência de um pensador pode ser medida pela sua capacidade em separar os níveis e os tipos lógicos. A grande maioria não consegue lidar com isso.

M. Greenfield: - Qual é o ponto chave da PNL para John Grinder?

John Grinder: - Eu tenho duas respostas! A mais simples é: Por que você cria esses modelos? Em um determinado momento, você tem que parar de brincar e passar do colégio para a Universidade ou entrar numa comunidade profissional. Quando você domina a PNL em algumas áreas, você tem que seguir em frente, atingir um nível superior. Encontre um gênio, crie um modelo, codifique-o de modo que fique conveniente lidar com esse modelo e que ele efetivamente faça transformações e, em seguida, domine o mundo. Então eu o reconheço como um ser humano igual, agindo de forma madura e correta. Mas até então - você pode continuar a brincar com os jogos pelo tempo que desejar. Essa é a minha resposta simples. E quanto a minha resposta complexa, eu estive pensando sobre ela por quatro dias! (piada)

M. Greenfield: - Algumas palavras sobre você...

John Grinder: - Sobre mim? Bem, eu estou estudando, aprendendo, e isso é tudo. Eu gosto de fazer coisas que funcionem. Eu gosto de aprender coisas novas - línguas, culturas, aprender com os gênios... É o que eu sempre digo: todo mundo tem sonhos, eu também. Um sonho bastante grande! E por que as pessoas sonham? Porque os sonhos envolvem uma série de qualidades que elas gostariam de ter. A religião é o ópio do povo? Essa é a especulação dos sonhos. Estou de acordo com Marx, que disse isso. O significado mais atualizado dessa ideia de Marx é que um sonho é dado às pessoas, isso as distrai da vida real na esperança de que terão algo no futuro. Se você tem um sonho, ele lhe dá uma direção e mobiliza recursos. Mas ao trabalhar para esse sonho (que incorpora toda a dignidade que falta agora), você sacrifica a qualidade do seu "hoje", então você estava sendo enganado, assim como todos aqueles que são enganados pela religião. O sonho existe como um lembrete da vida plena de todos os dias. Não sacrifique o seu "presente" em nome do seu "futuro"! Isso não significa que você não planeja a sua vida, que você não seja disciplinado, mas que você seja prudente e não será enganado por isso – "nós devemos viver para o amanhã". Devemos viver hoje para o amanhã. E agora, já, na vida diária, devemos ter a dignidade que o nosso futuro almeja. Caso contrário, você nunca irá criar o seu futuro.

Entrevista traduzida do site de Frank Pucelik