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Virginia teve sentimentos diferentes com relação a Richard Bandler em momentos diversos da sua vida. Lembro-me de ter ficado surpreendido pela maneira que ela ficou tocada quando ele lhe mandou flores no fim da sua vida quando ela já sabia que estava morrendo.
Eu me senti responsável, muitas vezes, por Richard e John, já que fui eu que os apresentei a ela. Aqueles são dois sujeitos que você não quer se sentir responsável por eles a não ser que tenha uma profunda crença em um Deus benevolente.
Para mim, tudo começou quando minha esposa Becky disse: "Bob, você tem que falar com ele." Ela estava se referindo a um garoto de 17 anos que ela tinha pedido para ensinar o nosso filho Dan a tocar bateria. Isso foi em 1967. O garoto de 17 anos era Richard Bandler (que era magro e esquelético naqueles dias). Ele estava no segundo grau e ajudava na montagem de shows de rock.
Becky tinha ficado impressionada por causa do interesse de Richard em filosofia e na abordagem intelectual que ele usava ao ensinar música. Nosso filho adotou Richard e a bateria. Em pouco tempo ele já tinha um grupo e eu o levava para tocar com os amigos, mais do que eu desejava.
Richard foi para Foothill, um colégio local, onde teve uma carreira acadêmica empolgante e tempestuosa levando à loucura alguns de seus professores (por vezes se recusava a transigir sobre coisas que eu achava que eram detalhes insignificantes).
Richard era jeitoso e podia fazer quase tudo. Nós tínhamos uma cabana no campo perto de Santa Cruz e, quando Richard mudou para a UCSC (University of California, Santa Cruz), foi ótimo para nós, pois ele construiu uma pequena cabana em nossa propriedade e tornou-se uma espécie de guarda com o seu cão e a sua namorada. Eles se sentiam como parte da família. Foi nessa cabana que Richard encontrou Virginia Satir pela primeira vez. Ela estava fazendo a reconstrução familiar de um amigo israelita. Cerca de 30 pessoas se reuniram para serem os atores e assistirem Virginia trabalhando.
Pouco tempo depois, Richard foi comigo e Becky visitar Bud e Michele Baldwin na cidade de Reno. Bud tinha ajudado a iniciar a faculdade de medicina local e tinha arranjado para Virginia fazer um workshop, que incluía trabalhar com duas famílias. Tudo foi filmado e isso gerou uma fita maravilhosa - Família em Crise. Nesse vídeo, uma paciente identificada (uma menina esquimó de 18 anos de idade) tinha um ataque epiléptico, aparentemente provocado pelo aumento da intimidade e do toque que Virginia havia introduzido no sistema familiar.
Depois pedi que Richard fizesse uma fita de áudio e transcrevesse um workshop que Virginia havia conduzido durante um mês no Canadá. Esperávamos publicar um livro dessa fita. Becky e eu também pensávamos que isso poderia ser benéfico para Richard, porém isso foi antes da minha participação em um workshop em que experimentei como isso poderia ser significativo.
Eu tive a experiência única de ser chefe de ambos: Virginia e Richard. Durante alguns anos, Richard trabalhou na editora Science and Behavior Books, onde foi de almoxarife a editor e autor. Antes disso, tecnicamente, eu tinha trabalhado como chefe de Virginia ensinando terapia familiar no Mental Research Institute, em Palo Alto. Esse foi o primeiro programa de treinamento em terapia familiar conjunta do mundo e era necessário um psiquiatra para conseguir uma subvenção do governo. Virginia era uma verdadeira desbravadora, como mulher e assistente social.
Richard estava completamente empolgado por Virgínia. Aqueles de vocês que a viram em um workshop de um dia sabem como isso podia ser uma experiência poderosa. O workshop de um mês de duração era outra coisa. Havia um efeito cumulativo visto que Virginia era extraordinária em construir um senso de comunidade.
Richard passou vários meses transcrevendo as fitas de áudio e, depois de algum tempo, desenvolveu muitos padrões de voz e maneirismos de Virgínia. Ele disse que era assim que ele aprendia música. Richard ouvia a música de alguém que ele admirava repetidas vezes até que soasse como a pessoa sendo imitada. Ele não estava preocupado com a imitação ou de perder a sua identidade. Aparentemente, os músicos usam, muitas vezes, uma forma de profunda identificação nos seus processos de aprendizagem.
Nessa época, Fritz Perls morreu. Ele tinha me dado um manuscrito inacabado que nós publicamos como The Gestalt Approach e Richard ajudou a editá-lo. Fizemos um segundo livro Eye Witness to Therapy que era essencialmente uma transcrição dos filmes de ensino que Fritz tinha feito. Mais uma vez, Richard passava dia após dia usando fones de ouvido enquanto assistia aos filmes – para ter certeza de que a transcrição estava correta. Ele saiu da transcrição falando e agindo como Fritz Perls. Acidentalmente, eu me descobri chamando-o de Fritz em várias ocasiões.
Embora ainda estudante, Richard começou a conduzir grupos de Gestalt no campus. John Grinder (então um jovem professor de linguística na UCSC) entrou para observar uma sessão e logo se tornou um colíder.
Nessa época, Richard havia se mudado para outra parte da propriedade que Becky e eu tínhamos, um local que tinha sido uma comunidade criativa para artistas e parteiras. A editora estava lá. Gregory Bateson e Lois tinham se mudado para a propriedade originalmente por causa do interesse da Lois em parto domiciliar. Então John Grinder também se mudou para lá. Virginia tinha sido madrinha de Gregory e Nora, a filha de Lois. A terra pode ter sofrido pela falta de atenção, mas tornou-se um ponto intelectual incrível. Em um momento, até Virginia falou em se mudar para lá.
Eu não sei quem fez as descobertas específicas da PNL. Sei que foi ideia de Gregory deles estudarem Milton Erickson junto com Virginia e Fritz Perls. Ambos, Virginia e Gregory, escreveram entusiásticas introduções para o livro A Estrutura da Magia. (A propósito, Richard selecionou o desenho na sobrecapa e fez a revisão da maior parte dos dois volumes. Tenho o prazer de dizer que eles venderam muito bem.)
Em sua introdução, Gregory Bateson disse:
"Eles têm ferramentas que nós não tínhamos ou não percebíamos como usar. O que acontece quando as mensagens no modo digital são enviadas para um pensador analógico? Nós não vemos essas várias formas de codificação: auditiva, visual, etc. Estão tão distantes, tão mutuamente diferentes mesmo na representação neurofisiológica, que nenhum material em um modo pode ser do mesmo tipo lógico que qualquer material no outro modo."
Quase ao mesmo tempo, Virginia me pediu para ir com ela a Winnipeg ver alguns vídeos que Maria Gomori tinha feito de Virgínia trabalhando com famílias diferentes na Faculdade de Medicina de lá. Os vídeos são excelentes e, infelizmente, nunca foram distribuídos. Antes de ver cada família, foi fornecido à Virginia apenas o sintoma presente e os nomes e as idades de todos os membros da família. Em seguida, ela falou sobre os vários pensamentos que lhe ocorreram antes de ver a família, apenas com base na cronologia dos fatos familiares revelados. Ela então explicou como tentava limpar sua mente antes de ir ver a família, a fim de ficar sensibilizada, mas não tendenciosa. Isso foi no ano de 1975 e bons vídeos de Virginia trabalhando com famílias reais não tinham sido feitos (com exceção de Family In Crisis).
Eu dei a minha cópia do vídeo para Richard e John e eles viram o vídeo repetidas vezes. (Aliás, nessa época Richard havia ensinado John a tocar guitarra e tenho certeza que eles abordaram isso como músicos.) Saíram da experiência com uma perfeita compreensão de alguns dos "jargões favoritos de Virgínia" (uma expressão que usavam na época). Eles foram capazes de mostrar a fita para a Virginia e traduzir o que ela tinha feito na terminologia dela. Foi daí que veio o livro, Changing With Families.
A família no vídeo apresentava problemas relacionados com os três filhos adolescentes, mas depois de meia hora de esclarecimentos esculpindo os problemas deles, tornou-se aparente para Virginia que a má comunicação entre os pais era o principal problema.
Posteriormente, ela trabalhou com os pais e os meninos tornaram-se os observadores. O pai era um atleta e um treinador que tinha ciúmes de sua mulher atraentemente enfeitada. Ele queria contato, ser tocado por ela. Ela se sentia culpada e não apreciada por ele. Virginia conversou com eles sobre os diferentes “canais de comunicação” deles.
Virgínia explicou que a desesperada mulher necessitava ser observada visualmente pelo seu marido e a necessidade dele era ser tocado por ela. Ela explicou e esculpiu como cada um era um acusador na sua própria maneira. Finalmente, ela os sentou frente a frente com seus joelhos se tocando. Ela pediu que eles segurassem as mãos e cobriu as mãos deles com as mãos dela. Ela explicou que dessa forma o marido ficaria tranquilizado pelo contato íntimo e poderia aprender a dizer (em palavras) para a esposa o que ele via nela que tanto admirava. Cada um deles praticou colocar em palavras as suas necessidades e verificar se o outro havia compreendido.
Essa técnica de sentar bem junto e diante um do outro, de mãos dadas e olhando diretamente para outro funcionou bem para eles. Nessa posição, Virginia os fez praticar para resolver problemas futuros dessa maneira. Depois ela os fez concordarem em fazer esse procedimento regularmente e eles praticaram maneiras em que cada um podia solicitá-lo.
Virginia fazia rotineiramente esse tipo de coisa quando demonstrava a terapia familiar para os estudantes. Ela ensinou os clientes e os estudantes sobre a importância das modalidades sensoriais, que ela chamava de canais de comunicação e referia-se aos olhos, os ouvidos, a boca e a pele. Eles tornaram-se descritos como os sistemas representacionais na terminologia da Neurolinguística.
Seus métodos de esclarecer os problemas apresentados foram o precursor do metamodelo, conforme descrito em A Estrutura da Magia. Por exemplo, Virginia não usou o termo linguístico substantivação (nominalização), mas se um pai dissesse que queria “respeito", Virginia pedia ao pai para detalhar o que seria parecido com o "respeito" para ele, de que modo os diversos membros da família precisavam agir de forma que ele codificasse isso como “respeito”. Dessa forma, ela dava à família uma imagem com a qual eles poderiam concordar ou discordar mais significativamente.
Virginia demonstrava a ancoragem e a ponte ao futuro enquanto mantinha o pai e a mãe de mãos dadas e nesse ritual que ela dava a eles, ensaiavam problemas futuros. De maneira similar, as técnicas de reformulação são encontradas em todo o trabalho de Virgínia, particularmente em Parts Parties.
Os primeiros anos de Virginia
Acredito que a valorização de Virginia das diferentes modalidades sensoriais era associada a um período de surdez que durou vários anos quando ela era bem jovem. Ela aprendeu leitura labial e acredito que também aprendeu a comunicação não verbal como uma segunda língua. Enquanto esteve surda (e sempre que ela fechava os olhos), ela podia experimentar a consciência sem a visão ou a audição. Eventualmente quando a audição voltou, ela teve a oportunidade de comparar o que a aprendizagem ou a confusão adicionada vieram da adição dessa modalidade. A maioria de nós aceita a consciência como verdadeira e assume que ela inclui todas as nossas modalidades do sentido, mas, de modo particular, a visão e o som.
Virginia teve a vantagem, por assim dizer, de crescer sabendo que a consciência era composta de diferentes modalidades sensoriais. Era natural para ela descrever a comunicação em termos de posturas de comunicação: o acusador, o apaziguador, o super razoável e o irrelevante, que foram, de certa forma, o alfabeto da linguagem não verbal que ela aprendeu enquanto surda.
Em “Conjoint Family Therapy”, Virginia escreveu: "Dentro de alguns momentos, estarei fazendo imagens mentais das pessoas na minha frente e vou traduzi-las em posturas físicas que representem os seus modos de comunicação”.
Uma nota final
De certa forma, Richard e John eram como os filhos pródigos que nunca voltaram. Eles, obviamente, aprenderam muito com Virginia, que foi parte da base da Programação Neurolinguística. Eles passaram a estudar as outras pessoas e também desenvolveram as suas próprias técnicas que são muito poderosas. No entanto, nenhum dos dois experimentou pessoalmente a reconstrução familiar no contexto de um treinamento prolongado. Eu acho que tal experiência para qualquer um deles teria acrescentado uma nova dimensão da avaliação de Virgínia e da vida. Richard e John também tiveram um contato muito limitado com Virginia durante os últimos 10 anos da vida dela e perderam a expressão plena do desenvolvimento espiritual dela.
O artigo original "Virginia Satir & Origins of NLP" foi publicado na revista Anchor Point de julho de 1992.