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A teoria cibernética foi uma fonte de inspiração para os fundadores da PNL. Mesmo em nossos dias, podemos encontrar referências ao pensamento cibernético na literatura da PNL. Mas, no conjunto da literatura gerencial, a teoria cibernética foi ofuscada por novas teorias, como a dinâmica de sistemas (pensamento de sistemas), caos e complexidade que, sem dúvida, ampliaram o alcance inicial das pressuposições cibernéticas. Isso resultou em algumas conotações negativas ligadas à cibernética, como sendo essencialmente uma teoria de controle no sentido mecanístico – situação não muito desejável quando se sabe quão negativamente o "controle" é considerado nas organizações.
Este artigo é uma tentativa de revisitar algumas das pressuposições cibernéticas fundamentais e sua possível aplicação a algo que as organizações valorizam muito – o trabalho em equipe. Os princípios cibernéticos poderiam ajudar, de alguma maneira, a compreender a natureza do trabalho em equipe, digamos, para um planejamento melhor e execução de tarefas? Como seria uma equipe organizada estritamente de acordo com os princípios da cibernética?
Em termos simples, a ideia cibernética pode ser assim conceituada: quando os sistemas estão preparados para funcionar num certo nível de eficiência ou de resultados, eles contêm dentro de si próprios a capacidade de fornecer retorno "negativo" (quando o objetivo não é alcançado), e realizar ação corretiva para mover o sistema ao nível desejado. Os sistemas de resfriamento e aquecimento são os melhores exemplos da cibernética em ação. Mas as equipes são formadas por seres humanos – autônomos e de muitas maneiras controversos. De que modo o sistema pode ser utilizado para fazer correções neste contexto? Naturalmente, a resposta do sistema não será a mesma como nos sistemas mecânicos. Mas há alguns paralelos importantes e interessantes.
As equipes, da mesma maneira que os sistemas mecânicos, têm objetivos expressos claramente (resultados). Nós sabemos pela experiência que as equipes de alto desempenho também são autorreguladoras – outra propriedade essencial dos sistemas cibernéticos.
As equipes se preocupam com o retorno negativo – o que estão alcançando e de que forma estão deixando de alcançar os objetivos previamente estabelecidos. Qual é a natureza das lacunas – elas estão perdendo o objetivo por uma margem pequena ou grande? Isso deve engatilhar uma reação investigadora: o que está causando a falha? Como explicamos a falta de realização?
Os sistemas cibernéticos são repetitivos por natureza, o que significa que eles tendem a repetir infinitamente seus sucessos e suas falhas. Isso é exatamente o que acontece às equipes. Sucesso aos bem sucedidos e fracasso àqueles que falham, e isso pode tomar a forma de um círculo virtuoso ou vicioso.
Os sistemas cibernéticos não são muito bons em explicar todas e as diversas relações causais dentro de um elo. Por quê? Porque se trata de computações muito complicadas, e não existe algoritmo verdadeiro ou experimentado para fazer isso com precisão. O caso das equipes de trabalho é idêntico. As explicações para o sucesso e fracasso podem ser perturbadoras, para dizer o mínimo, devido aos comportamentos defensivos dos membros da equipe. Qualquer discussão sobre o fracasso pode degenerar facilmente em culpa e negação, e em desentendimentos.
Uma das grandes limitações dos sistemas cibernéticos é sua incapacidade de lidar com um retorno positivo ou mais intenso, o que significa que negam ou deixam de reconhecer a natureza reforçadora dos ciclos causais. Uma pessoa viciada em drogas descerá cada vez mais fundo, a menos que alguma ação corretiva seja realizada, sob a forma de aconselhamento ou tratamento contra as drogas. Um estudante brilhante subirá cada vez mais na conquista de honras acadêmicas, a menos que seja parado em seu caminho por um acontecimento negativo, como doença, constrangimento financeiro, ou outro constrangimento ambiental. O sucesso na vida é, portanto, apresentado, muitas vezes, como a luta por encontrar um tipo correto de ciclo reforçador. Se estou surfando a onda que está subindo eu subirei com ela, a menos que outra força intervenha e me faça parar. Equipes de alto desempenho são realmente boas em identificar os ciclos positivos reforçadores. Neste sentido, elas suplantam as fraquezas típicas da teoria cibernética.
Um agente fora do sistema determina os critérios de desempenho que regem os sistemas cibernéticos. Isso se chama ponto externo de referência. Nós programamos a temperatura da sala e o sistema executa nosso comando. As equipes possuem pontos externos de referência? Claro que possuem, na maioria dos casos, porque as equipes são formadas em função de ações específicas de gerenciamento, com a finalidade de alcançar resultados específicos. Essas ações são chamadas de "termos de referência" para a equipe, porque dão legitimidade organizacional e recursos – orçamento, tempo, e mandam fazer certas coisas e não outras. Essa prestação de contas externa pode ser uma limitação em alguns casos, pois a equipe pode ter mais criatividade do que o agente externo para especificar melhor sua agenda de ações e usar os recursos de uma forma mais produtiva.
Este é o ponto no qual precisamos ultrapassar a estrutura cibernética e enfatizar a importância da liderança da equipe. As máquinas não pensam como os seres humanos (ainda não, com certeza!). Elas são criadas para obedecer instruções ou regras. O comportamento da máquina é cem por cento governado por regras. O comportamento humano, por outro lado, degenera qualitativamente quando é governado por regras. Lembra-se dos guardas dos campos nazistas, que diziam estar simplesmente obedecendo o regulamento? Em tais casos extremos, as regras podem privar-nos de nossa humanidade e moralidade. A liderança, quando é visionária e iluminada, liberta grupos de pessoas de suas limitações autoimpostas, de seus sistemas de crença limitadores. É sob tais circunstâncias que as pessoas alcançam resultados extraordinários, não por violar as regras, mas através da expansão de suas definições e enriquecendo seu significado.
Outro ponto de desigualdade entre um sistema mecânico e um sistema humano é que, enquanto o primeiro não tem memória ou consciência de sua própria história (a menos que dados anteriores sejam colocados em algum tipo de disco rígido), o último não pode viver sem memória. Os seres humanos são produtos de suas histórias pessoais, mais do que de qualquer outra coisa. Uma equipe pode ser vista como uma agregação de diversas histórias interagindo num sistema dinâmico de equipe, criando acordos e desacordos, harmonia e conflito, sucesso e fracasso.
Independentemente dessas grandes diferenças entre as perspectivas cibernéticas e as de uma equipe, a cibernética nos dá uma lição muito válida, que não pode ser ignorada – a maneira como essas duas perspectivas definem o sucesso. Um sistema cibernético bem sucedido é o que possui estabilidade, consistência e harmonia. Podemos imaginar uma equipe de alto desempenho sem qualquer desses atributos?
As equipes requerem estabilidade porque são o amortecedor organizacional contra os distúrbios ambientais. Uma organização sem uma rede de equipes estável se desagregaria facilmente em face dos choques externos como a recessão, a luta civil, a competição acirrada, ou as importações estrangeiras. As equipes também precisam de consistência. E esta é necessária tanto na forma como o negócio é realizado, como nos atos comportamentais de cada membro. Por último, mas não de menor importância, a harmonia da equipe é um recurso valioso sem o qual a excelência da equipe permaneceria como um objetivo distante.
Concluindo, podemos definir uma organização efetiva, em amplos termos cibernéticos, como uma entidade que consiste de diversas equipes autorreguladoras funcionando de acordo com alguns padrões claramente estabelecidos de ações e comportamentos (regras). Essas equipes são plenamente autorizadas a buscar novos modelos de ação e comportamento, visando a tomar ação corretiva sempre que necessário. Como se pode ver, esta definição está longe da cibernética clássica, mas se pudermos viver com isso, poderemos ver de que maneira algo mágico pode acontecer quando os princípios científicos são aplicados para impulsionar as metas e objetivos humanos. Os seres humanos têm a capacidade inata de transcender suas formas mecânicas – as limitações de seus corpos – e as limitações de seu pensamento mecânico para produzir resultados extraordinários, para dançar na superfície da lua, para explorar as profundidades dos oceanos, para criar vida numa célula, e para decifrar os complexos mistérios da criação.
Publicado na revista Anchor Point de abril 2002.
Trad. Hélia Cadore