Aspectos psicológicos na reabilitação de atletas

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sex, 12/05/2006

Esse artigo vai dar algumas diretrizes a serem seguidas pelos profissionais de medicina esportiva quando forem lidar com os estados emocionais experimentados pelos atletas após uma contusão. A palavra "diretriz" devia ser acentuada. Como cada paciente é singular, o practitioner terá que determinar quais são as diretrizes mais úteis para cada indivíduo.

Em primeiro lugar é importante reconhecer que a pessoa tratada é um atleta, isto é, uma pessoa cuja condição física e capacidade de praticar o esporte escolhido está intimamente ligada ao seu sentido de bem-estar. No instante em que o atleta se machuca, tudo aquilo em que ele trabalhou - o progresso feito através do condicionamento - lhe é arrebatado. Isso tem um impacto devastador, porque para o atleta, condição física e capacidade atlética são componentes importantes do seu autoconceito. Isso porque no mundo deles, muitos dos critérios para um ser humano se tornar realizado, se tornam repentinamente inatingíveis.

Além do mais, os atletas agem com algumas das mais poderosas pressuposições que estão, muitas vezes, em oposição direta ao que o médico ou terapeuta está tentando atingir. Muitos atletas, se não a maioria, se guiam inconscientemente pelo princípio de que mais é melhor. Isso se traduz em crenças comportamentais como: "Quanto mais exercícios de reabilitação eu fizer, melhor. Se eu trabalhar todo dia no meu programa de reabilitação, vou me curar mais ligeiro. Somente os perdedores tiram um dia de descanso."

Muitos atletas também acreditam que se o seu corpo não está doendo, ele não está se esforçando bastante. O subproduto dessa crença é que o atleta tende a não "ouvir" o seu corpo. Como ele ignora o input que o corpo está dando, ele se priva de um mecanismo de feedback que determina quando ele já fez o suficiente e se o resultado desejado está sendo alcançado.

Uma pressuposição inconsciente similar e muito comum entre atletas, é que quando algo não funciona, deve-se tentar com mais firmeza ao invés da noção de que quando algo não funciona, deve-se tentar algo diferente. Ao seguir essa crença, o atleta pode continuar a usar um programa de exercícios ineficaz. Ao invés de ir a um médico ou a um trainer para modificar o procedimento, ele fica quieto, continua com o programa e se esforça mais aumentando a dose por conta própria. Isso não é o ideal, só favorece os resultados negativos.

Como consequência, os objetivos do processo de reabilitação podem ser realmente obstruídos pelo estado emocional e pelas crenças do paciente. Tudo isso deve ser tratado como parte de qualquer programa de reabilitação. Tratar o joelho e ignorar o cérebro e as emoções que conduzem à coreografia deste joelho não é consistente com a atenção total ao paciente.

Qualquer plano de reabilitação abrangente precisa ter uma interface dos procedimentos externos de reabilitação com o próprio estado interno da mente do paciente. Quando esses dois fatores se apresentam juntos, aumenta-se tremendamente a chance de resultados bem-sucedidos. Um estado positivo da mente promove um melhor tratamento e mais intensidade com relação aos procedimentos externos da reabilitação, o que produz os resultados bem-sucedidos.

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O restante desse artigo apresenta alguns modelos de passo a passo que podem ser usados para tratar o interno, a dimensão emocional do atleta contundido. Mais uma vez, são ferramentas a serem usadas da maneira que melhor se enquadrar na situação particular. A solução é sobrepor, em cada etapa, a dimensão interna e os procedimentos externos prescritos.

Fase I

O propósito da primeira reunião com o paciente é obter informações sobre o atleta e a sua contusão. Enquanto estiver reunindo essas informações para fazer o diagnóstico, também é crítico levar o tempo que for necessário para estabelecer rapport com o paciente. Uma vez estabelecido o rapport, ele precisa ser mantido. Essa é uma das manobras mais simples e de melhor custo benefício que um comunicador profissional deve fazer.

O rapport não significa necessariamente que a situação é agradável para o médico ou para o paciente - ou mesmo que exista total concordância. O rapport significa sensibilidade - está presente entre o médico ou terapeuta e o paciente bem como entre o paciente e o médico ou terapeuta. Compete ao practitioner ter certeza que essa sensibilidade está presente nos dois lados.

O rapport é um destes ingredientes básicos que muitas vezes é negligenciado ou presumido que já exista, mas é essencial para o sucesso em qualquer contexto interpessoal. Ele aumenta o poder do practitioner e pode conduzir o processo de recuperação. Sem ele, se desenvolve tensão no relacionamento.

Não ter pressa para conhecer o atleta, para desenvolver um plano sob medida para se adequar aos objetivos dele e satisfazer o seu "modelo do mundo" - a realidade dele - é um tempo bem utilizado. Ao se fazer isso, obtém-se o respeito e a ansiedade dele é reduzida, e se ganha a cooperação e confiança dele. No longo prazo, o tempo gasto estabelecendo e mantendo o rapport irá economizar tempo e energia durante os tempos difíceis do processo de reabilitação.

Fase II

Uma vez concluído o diagnóstico e determinado o plano de reabilitação, os dois precisam ser explicados ao paciente para que ele possa entender a contusão e o procedimento de recuperação. O rapport estabelecido vai lhe ajudar, porque nesta fase o plano será explicado e a confiança e o entusiasmo do paciente para participar deve ser conquistado ou intensificado.

Para alcançar isso, siga essas cinco etapas:

  1. Explique a condição atual e a natureza da contusão.

  2. Explique a condição desejada - o que faz parte da recuperação e como saber quando a recuperação foi alcançada com êxito. Naturalmente dependendo da contusão, pode significar que a condição desejada é o retorno de apenas 80 por cento do nível da atividade anterior à contusão. Isso precisa ser especificado porque assim o paciente terá o conhecimento realístico do resultado final.

    1. Nessas duas etapas, use uma linguagem de fácil compreensão para que uma pessoa leiga possa entender. Por exemplo, "ter uma chondromalacia patela que é a inflamação da cartilagem articular" é bem diferente de ouvir que "você tem o que é chamado de joelho de corredor, que é o desgaste da cartilagem da patela - abaixo da rótula, que fica como uma lixa, e geralmente produz um som de rangido já que não mais desliza suavemente sobre o joelho. É isso que está causando a sua dor."
    2. Nesse ponto, identificamos a situação atual e a condição desejada do paciente.
  3. Dê a "grande imagem," isto é, uma visão geral de como ir da condição atual para a condição desejada. Em outras palavras, no caso de um lutador com o ombro deslocado, iríamos explicar que "nós teremos que colocar uma tipoia ou uma tala por algumas semanas, e depois vamos ajudá-lo a recuperar os movimentos e a sua força."

  4. Depois explique as etapas incluídas no programa de reabilitação. Divida em pequenas partes pois assim o atleta pode entender o que vai acontecer primeiro, depois, e assim por diante. Proponha um período de tempo folgado para cada etapa. Essas etapas intermediárias não somente dão ao atleta o conhecimento do que irá acontecer como também fornece objetivos intermediários ao longo do caminho. Ao fazer isso, o atleta não terá que se focar na condição final desejada, mais distante, mas sim em algumas metas de curto prazo a serem alcançadas

  5. Uma vez claramente delineado o programa de reabilitação da etapa 4, o practitioner deveria gastar um tempo para discutir alguns detalhes mais pessoais do caso. Ao se focar nesses detalhes pessoais, o médico ou terapeuta pode gravar na mente do atleta os ingredientes necessários e a cooperação exigidos para um programa de recuperação bem-sucedido. O paciente terá, sem dúvida, muitas questões que não foram abrangidas nas etapas anteriores. Quando o practitioner respondê-las, abre-se uma oportunidade natural para influenciar a disposição de ânimo do paciente.

Por exemplo, o médico ou o treinador vai querer estabelecer certos pontos com o paciente, tais como:

  1. Um tempo realístico para a recuperação.
  2. A necessidade de ser paciente e consistente.
  3. A importância de não trabalhar em excesso.
  4. O trabalho de equipe necessário entre o atleta e o practitioner.
  5. Uma linha aberta de comunicação entre o atleta e o practitioner.
  6. Empenho por parte do paciente.

Quando esses pontos forem estabelecidos, o paciente e o practitioner irão trabalhar juntos em conformidade com as instruções prescritas e com a garantia de que o atleta estará realizando a tarefa no estado correto da mente. Como cada paciente e cada caso é diferente, terá que ser decidido quais são os que itens precisam ser colocados em prática. Mas, em geral, no final dessa etapa 5, o paciente deve ter um conhecimento claro do seguinte:

  1. Qual é o problema.
  2. O que precisa ser feito para corrigir o problema.
  3. Como o plano de reabilitação pretende alcançar isso.
  4. O que é exigido dele.
  5. Qual será o resultado final realístico.

Fase III

Uma vez que o programa de reabilitação tenha sido formulado e explicado ao paciente, é tempo para um tipo de atenção mais pessoal. Isso começa na etapa 5 da fase anterior, mas agora ele deve ser feito com mais especificidade. O practitioner simplesmente precisa saber mais sobre o paciente do que já foi eliciado durante as fases I e II.

Deve começar trocando o foco de como o atleta está reagindo com o que tem lhe acontecido. Qual é a reação dele ao não ser capaz de resolver o problema; ao não ser capaz de competir; de estar contundido; de não poder contribuir com a equipe? Existe alguma objeção ou medo sobre alguma coisa que o médico ou o terapeuta disse ou lhe pediu? O paciente está prevendo algum problema ou obstáculo durante o período de recuperação?

Nesta etapa, o practitioner estará eliciando a informação do atleta sobre a sua reação emocional ao que aconteceu. Essa informação é obtida fazendo perguntas ao paciente e deixando-o falar. O practitioner, naturalmente, quer usar essa informação para adequar o programa ao indivíduo. Afinal é a pessoa que está sendo tratada, não apenas a contusão.

Isso pode significar que é necessário gastar algum tempo tratando dos medos, da raiva ou da depressão, ou quaisquer emoções que apareceram. É um tempo bem gasto, porque o resultado final será retardado se a atitude mental do atleta for improdutiva.

Emoções como o medo, raiva ou depressão são reações normais a uma contusão traumática. Além disso, as pessoas parecem passar pelo ciclo dessas emoções mais de uma vez antes de concluir o processo de reabilitação. Por essa razão, o practitioner não deve ficar surpreso ou frustrado se o paciente aparecer "para cima numa semana e por baixo na seguinte."

Fase IV

Na etapa 4 da fase II, foram descritas as etapas e procedimentos pelas quais o paciente deve passar para alcançar a recuperação. Alguns procedimentos podem exigir a participação ativa do atleta, como por exemplo, executar os exercícios em casa.

Quando o programa de reabilitação avança e o atleta chega ao ponto em que está pronto para começar a realizar os exercícios, é importante que o practitioner treine o paciente para fazer esses exercícios corretamente para maximizar os benefícios. Fazer levantamento de peso nas pernas para fortalecer um membro contundido de tal maneira que a maior parte do esforço seja direcionado para a parte superior do corpo é uma técnica ineficiente e portanto a reabilitação também será medíocre.

E o que isso tem a ver com a experiência interna do paciente? Muito simples: usar uma técnica ineficiente vai produzir um resultado medíocre, o que mais tarde terá uma influência intensa sobre a experiência interna do atleta. Assim, nessa fase, deve-se levar o tempo necessário para treinar o paciente a realizar adequadamente os exercícios de reabilitação, que irão ter um impacto positivo na condição emocional global.

As seguintes etapas irão lhe ajudar para assegurar um treinamento adequado:

  1. Em linguagem leiga, explique ao paciente:
    1. Aonde esses exercícios estarão atuando.
    2. Os exercícios foram planejados para alcançar o quê.
    3. Por que alcançar isso é importante para a recuperação.
  2. Dê instruções de como executar adequadamente os exercícios da seguinte maneira:
    1. Explique verbalmente as instruções.
    2. Mostre ao atleta como fazer demonstrando a técnica adequada. Quando isso for feito, repasse uma segunda vez as instruções verbais, adicionando mais detalhes.
    3. Deixe o paciente realizar os exercícios sozinho enquanto você faz correções e melhorias.
    4. Teste a técnica deixando o paciente demonstrar isso sem auxílio.

Esse formato "diga a eles, mostre a eles, faça eles fazerem" funciona bem ao se dar um treinamento completo e preciso para qualquer procedimento de reabilitação que envolva ativamente o paciente, mesmo se for algo tão simples como usar adequadamente uma atadura no tornozelo.

Resumo

Médicos e profissionais da medicina esportiva são, pela natureza interpessoal do seu trabalho, comunicadores profissionais. A comunicação tendo múltiplas dimensões, exige um cuidado não somente com as práticas de saúde adequadas mas também com as reações internas do paciente.

O formato descrito aqui e resumido na tabela 1 fornece um modelo prático para usar, porque durante o tratamento, os pacientes são influenciados ao nível emocional com tranquilidade, direção e confiança. Por último, essas diretrizes devem ser usadas para revisar ou complementar o que está já sendo feito. Elas não pretendem substituir um programa já estabelecido.

Tabela 1

Modelo para tratar dos aspectos psicológicos na reabilitação de atletas

I. Estabeleça rapport com o paciente.

II. Explique a contusão e o plano de reabilitação para o paciente.

  1. Descreva a natureza da contusão.
  2. Descreva o que constitui a recuperação e como saber que ela foi alcançada com sucesso.
  3. Dê uma visão geral de todo o plano de recuperação.
  4. Divida o plano de recuperação em etapas ou fases distintas.
  5. Prepare o terreno para o paciente ter disposição de ânimo sobre o plano de reabilitação.

III. Trate das reações emocionais resultante da contusão e do tratamento do paciente.

IV. Treine o paciente para executar adequadamente os exercícios de reabilitação.

  1. Explique a natureza dos exercícios.
    1. O que ele estará fazendo.
    2. O que isso irá alcançar.
    3. Por que isso é importante para a recuperação.
  2. Dê instruções de como executar adequadamente os exercícios.
    1. Explique verbalmente.
    2. Demonstre- o.
    3. Faça o paciente repetir quando for feito uma correção.
    4. Teste as técnicas do paciente.

Gary Faris, M.A. é um Trainer Certificado de PNL e Psicólogo da Clínica da Medicina de Esportes de Fort Collins, em Fort Collins, Colorado.

Artigo publicado na Revista Anchor Point de abril de 1995.

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